sábado, 3 de novembro de 2007

À loucura


Comigo também foi assim... Eu sabia que me tornaria louca sem deixar o convívio social. E esse seria meu fardo: só eu saber da minha loucura. Então, tornei-me anti-social, por muitos rotulada de desenturmada. Só porque não exilei-me como fez Osho ou Buda, para evoluir. Ahh, mas ficar em grupo proferindo achismos, quando devo ouvir, apenas ouvir... É besteira! Enfim, aqueles que sabem o que estão falando que digam a sua verdade, não eu aprendiz.

De grupos meus ouvidos ensurdeceram. Portanto, nem sempre socializo. Prefiro os livros, os filmes, os animais ou as plantas e paisagens. Assim assimilo a vida sem disputar palavras, na maioria das vezes vagas.

Desses grupos achistas, outro dia ouvi dizer que o anti-social é desenturmado, o que é verdadeiramente idiota porque a palavra "desenturmado" traz a concepção de rejeição e, no entanto, é o anti-social que rejeita.

Não tenho a menor necessidade de fazer parte de qualquer grupo que seja, até porque já faço parte de vários, à minha maneira, com meus limites. Acho que há grandeza no saber andar por aí sozinho. Ou com o "migo", que é um ótimo amigo, vai onde eu quero, pensa como eu e melhor ainda, me entende. Hoje comemoro a loucura, pois andar comigo faz-me rir.

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Estorvo

Da nostalgia do verão - fumaça
Falta de pedigree: vergonha
Do passado distante - alívio
Você, presente, maconha
De uma escolha passageira, tua eternidade
Amor esquecido, descabido
Que da falta de vontade haja amizade
Mas de um mero cumprimento ilusão?
Pedido de esmola no momento errado
Desprezo, pena, olhar desviado
E do último dia até hoje: um imenso abismo
Um inverno de palavras rigoroso
De insistência, egoísmo
E de maluquice distância
De coitado nada!
De invasão de espaço: suficiente
De insensatez - você
Eu, a cada dia, mais impaciente.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Admirável mundo novo


Ideologia, eu quero uma pra viver

Se nossos heróis morreram de overdose, na verdade a gente nem sabe, pois nem heróis mais a gente tem. Vemos nossos inimigos no poder e não fazemos nada, não queremos nada, não sonhamos com mais nada. Uma geração perdida entre Orkut e escova progressiva, sem personalidade, sem sonhos, sem ideais. Afinal, o que a gente quer?

Enquanto na ditadura nossos pais arriscavam suas vidas pelos seus ideais, nosso grande motivo de protesto é o cancelamento das chopadas na PUC. Enquanto algum dia já se acreditou que é nosso dever fazer um mundo melhor, não somos nem capazes de jogar nosso lixo no lugar certo e nosso grande dilema e para que night vamos hoje. E não adianta usarmos a desculpa de que a ditadura acabou e não há mais nada para combatermos. E a violência do Rio? Os escândalos no governo? A gente vai continuar assistindo a tudo isto calado?! Não, a gente nem assiste, pois o Jornal Nacional é no mesmo horário do The O.C..

A gente prefere fechar os olhos, e dançar até o amanhecer. Malhar o corpinho na academia pra não ter que pensar, gastar nossas tensões no cartão de crédito... Nós somos produtos, sem identidade, parte de um sistema que depende de nós para sobreviver, só isso. O dono do bar precisa de alguém para comprar suas bebidas, o da loja , suas roupas. Se este alguém é Ana, Carolina ou Beatriz, não importa. As três, aliás, devem ter o mesmo cabelo liso com luzes nas pontas, a mesma calça Diesel, um fotolog mostrando momentos felizes (sim, porque a vida é bela e todos vivem sorrindo...) e a mesma pulseirinha amarela Livestrong. Devem freqüentar os mesmos lugares, dizer que não agüentam mais estes lugares, mas “vão porque todo mundo vai”. 

E assim funciona a nossa cabeça. Seguimos, de olhos fechados, aos que não sabem para onde estão indo. Se um vai pra festa, todo mundo vai; se um faz cursinho pré-vestibular, todo mundo faz. Ninguém toma a iniciativa de pensar, questionar, olhar para este sistema com olhos mais críticos. Afinal, temos um mundo de ofertas diante de nós. Pra que parar pra pensar?! Acabamos nos perdendo em tudo isto que temos... Perdendo nossos sonhos e transportando nossos problemas para “que roupa vou usar hoje?”.

Aonde vamos chegar? Não sei... Não nos frustramos por não chegar a lugar nenhum uma vez que nem objetivo mais temos! Talvez um dia caiamos na real e pagaremos o psiquiatra mais caro para nos dar um Prozac , na tentativa de continuar vivendo no nosso falso conto de fadas. Assim, nos tornaremos também os financiadores da indústria farmacêutica... 

(Anna Costa e Silva)

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Le Parkour


Claro que eu já tinha ouvido falar do Le Parkour, mas nunca tinha visto tão de perto o quanto este esporte é radical e exige esforço físico dos seus praticantes.

De acordo com o fundador David Belle, o espírito do traceur visa superar todos os obstáculos em seu próprio caminho como se estivesse em uma emergência. O objetivo é mover-se de tal maneira, com quaisquer movimentos, para ajudá-lo a ganhar a maior vantagem possível de alguém ou em alguma coisa, quer seja escapando daquilo ou caçando isso.

Jerônimo Bittercourt é ator, bailarino e praticante do Parkour desde 2004, além um dos principais responsáveis pela divulgação da prática no Brasil. Ele foi contratado pela produtora Hungry Man para filmagem de campanha comercial da IG, onde pulou de um prédio a outro na UERJ.


Confira algumas fotos do making off:


Jerônimo Bittencourt durante filmagem de campanha publicitária para IG.

domingo, 2 de setembro de 2007

Casamentos


Sacolinhas de pano com fitas de cetim azul combinando com o sexo do bebê que chegará em 5 meses serão necessárias. Praticamente tudo terá que ser preparado novamente. Mas dessa vez os presentes não serão domésticos. Serão fraldas, mamadeiras e chocalhos. Tudo que é preciso para o desenvolvimento do primeiro filho.

Por agora, convites personalizados com indicações de uma loja de decoração famosa. As amigas mais íntimas haviam contratado djs e garotos dançantes que fariam uma apresentação de streaptease. Claro, tudo com muito respeito, afinal, haveria mães e avós presentes no Chá de Panela da noivinha recém saída da adolescência.

No final da festa, sob o efeito de muito champagne, reuniram-se algumas senhoras para falar sobre a experiência do casamento com a futura esposa.

- O meu casamento foi lindo. Mas a verdade é que meus pais que fizeram questão da cerimônia. Eu já morava com o Emílio há mais de 3 anos e, pela gente, não faríamos festa.

- Você achou que mudou alguma coisa na vida de vocês depois que casaram? - Indagou Estela, a única que nunca havia se casado.

- Nada. Mas minha mãe me encheu a paciência dizendo que, se por acaso, um dia, nos separássemos, seria mais garantido pra mim, que eu estivesse casada. Acho que provar a união estável ainda é difícil e com o casamento não teria errada: 50% de tudo seria meu e 50% dele. - explicou Elisa.

- Ah que besteira! Hoje em dia existem alternativas para se precaver. Eu e o Marcos, por exemplo, assinamos, no cartório, a Escritura de Declaração de União Estável. Com essa declaração fica estabelecido que todos os bens que adquirirmos juntos é dos dois. A gente nem mora junto né... Então achei melhor fazer isso.

- Ai gente, no dia do meu chá de panela e vocês aí já pensando em separação! Casaram pra quê se pensam em separar?

As duas soltaram uma gargalhada.

- Você é muito nova ainda. Não sabe o que está falando. Quando for morar com seu marido vai entender muita coisa... - ponderou Elisa.

- Chega, você duas, de ficarem enchendo a cabeça da minha filha às vésperas do casamento! Sim, ela é uma criança ainda, romântica e cheia de sonhos. E vocês tratem de não estragar isso!

- E você Virgínia, conte-nos, como foi seu casamento e a quanto andas ainda hoje? - indagou Estela num tom sarcástico.

- Ah... o meu casamento foi a realização de um sonho, foi um dia de princesa. Casei com o homem que eu amo. Tinha um vestido lindo tomara-que-caia, branco, todo de seda. O véu não era longo, porque eu não queria nada arrastando no chão. As flores do buquê eram lilás combinando com as forminhas dos docinhos e as damas de honra.

- É, o casamento da Virgínia foi luxuosíssimo. Foram uns 600 convidados. Lembro até hoje dos comentários nas colunas sociais. - acrescentou Olga, que já era de mais idade - Eu era muito amiga da mãe da Virgínia. Que Deus a tenha! Ela fez muito gosto nesse casamento.

- Também, com um partidão feito o Nolasco. - disse Estela levando um beliscão de Elisa discretamente.

- Eu sou muito feliz até hoje. - finalizou Virgínia. - E você minha filha, se Deus quiser, será também.

- O casamento é feito de paciência - disse Dona Olga pegando na mão de Letícia - Morar junto é difícil, você terá que aprender a conviver com os defeitos do outro e ele com os seus. As pessoas são cheias de manias, que só descobrimos com a convivência diária. Uma vida a dois tem seus altos e baixos e saber esperar a crise passar é uma virtude essencial para que tudo dê certo.

- Você é tão sábia tia Olga. Não consigo entender por que a Senhora se separou do tio Luis. Pareciam tão felizes!

Elisa e Estela coxixaram baixinho:

-É que com tanta sabedoria ela se deu conta de que casamento é uma furada inevitável. Mas agora ela aprendeu e não casa mais. - riram baixinho.

- Eu e o tio Luis não nos amávamos mais. Logo depois, seu tio se apaixonou por outra mulher, teve filhos com ela e eu tive que seguir minha vida. Eu também não o amava mais como homem. Tentei preservar o casamento por causa dos filhos até onde deu. Mas no fim das contas tudo aconteceu como deveria ser. Não vê hoje? Eu e seu tio somos muitos amigos. A mulher dele é ótima. E eu acabei encontrando um novo amor.

- Mas o casamento não deveria ser pra sempre? Minha mãe diz que o dela será.

- Sim, pra sempre enquanto o amor dure.

Neste instante foram interrompidas pelas amigas da Letícia que queriam se despedir.

- Queridas, também vamos indo que já está tarde. Preciso levar o Lucas amanhã cedo ao colégio e a Estela vai me dar uma carona. - disse Elisa já se despendindo.

Eram cinco horas da tarde da semana seguinte. O noivo, enquanto esperava, cumprimentava os mais de 600 convidados. Eram 6 casais de padrinhos para cada lado. As madrinhas estavam com vestidos longos, cada uma de uma cor. A igreja toda florida com rosas brancas e as daminhas vestidas como bonecas em vestidos no tom de azul claro.

Havia uma organizadora do evento um tanto autoritária. Parecia estressada para que tudo saísse perfeito. Verificava tudo de 5 em 5 minutos: a posição dos padrinhos, das damas de honra, a orquestra e o coral, o padre e os horários.

Tam tam na nam. Tam tam na nam...

Os sinos bateram e a orquestra começou a tocar em sincronia com o canto do coral. As pessoas foram entrando na ordem cerimonial e por último a noiva numa entrada triunfal. A maioria dos olhos estavam cheios de lágrimas de emoção e as atenções dirigidas para mais bela da noite, aquela vestida de branco, a única.

Depois da igreja, todos se dirigiram para o cerimonial onde um banquete, seguido de uma festa, os esperava. Fotógrafos e operadores de câmera acompanhavam todos os movimentos dos noivos. Estava tudo impecável: a música ambiente enquanto serviam o jantar nas mesas à luz de velas, vinhos, champagnes, wiskies, a seleção de músicas para embalar a pista de dança, os docinhos e o bolo nupcial, as havianas distribuídas para as mulheres descansarem os pés das sandálias de salto fino número 10.

Elisa e Estela sentaram-se na mesma mesa com seus respectivos maridos.

- Essa festa não poderia ser diferente sendo da filha de quem é não é mesmo? - indagou Estela.

- Ahahaha. Estela, você é impossível!

- Elisa, por favor, vamos comentar a respeito da declaração da Virgínia sobre "Ainda sou muito feliz" e "Meu casamento durará para sempre". Gente, o que foi isso?! Tem mulher que nasce pra ser corna mansa mesmo né?

- Por que você está falando isso?

- Ahh, você não sabe? O Nolasco é aquele pedaço de mal caminho, inteligente e bem sucedido. Você acha que ele ia se contentar com uma mulher só? Claro que não né. Pega todas as secretárias e outras mais. Todo mundo sabe.

- Nossa, mas a Virgínia é tão bonita, dedicada.

- Mas homem fiel não existe e além disso, a concorrência é acirrada.

- Mas a Virgínia sabe e continua com ele?

- Ahh, ela não é boba nem nada. A Letícia está casando porque engravidou. Mas eles namoraram pouquíssimo tempo. Você acha mesmo que esse casamento vai dar certo? Daqui a pouco ela volta pra casa com uma criança debaixo dos braços e aí vai sobrar pra quem? Pros pais não é?! Hoje em dia também, tem tanta mulher interesseira, que se a Virgínia separasse do Nolasco por causa de infidelidade, não ia demorar muito para vê-lo casado de novo com uma moça bem mais nova, bonita e doida pra ser mãe de herdeiros dele. Acaba se tornando uma questão de preservar o patrimônio dos filhos e o conforto dela.

- Ahh Estela, acho que você está sendo muito prática na sua análise. Ela ama o Nolasco e é isto que mantém o relacionamento deles.

- Não seja ingênua Elisa. É claro que o amor existe, mas não pense que essa é a única razão deles estarem juntos ainda.

Na outra mesa estavam sentados os familiares. Dona Olga era praticamente da família e por isto, encontrava-se nesta mesa.

- E então Virgínia, como estão as coisas com o Nolasco? - perguntou Dona Olga.

- Eu tenho aguentado muitas coisas. Mas tenho conseguido levar. Casamento dá muito trabalho. Se algum dia me separar, vou fazer igual à você. Não quero mais saber disso.

- Eu sei que é duro.

- Olga, fiquei revoltada ontem com a ironia da Estela. Muito fácil falar não sendo casada. Esse pessoal mais novo tem uma cabeça muito diferente da nossa não é mesmo? União estável, casamento moderno, infidelidade recíproca e assumida, é o que eles chamam de relacionamento aberto, cada um morando na sua própria casa. Pra mim isso não é estar junto.

- Eles parecem que se amam e se admiram. Olha lá. E acho que pensam em ter filhos daqui a pouco. Aí eu não sei como vai ficar essa estória de morarem cada um em um endereço. No mínimo terão que morar na mesma rua pra revezarem nas madrugadas com os choros do bebê.

- As vezes eu penso que seria tão mais fácil se eu tivesse a mentalidade deles. Esse jogo aberto, a falta de possessividade e ciúmes. Eu sofro tanto com as traições e nunca conseguiria fazer o mesmo, nem acho que o Nolasco aceitaria isso.

- Não sei se é tão mais fácil assim Virgínia. E nem acho que não exista ciúmes. Mas realmente, eles lidam de uma outra forma com tudo isso. E acho que cada um tem a sua maneira de viver. O importante é ser feliz.

Na terceira mesa estava Letícia.

- Amiga, me conta, ganhou muitos presentes? O apartamento que vocês vão morar já está pronto? Você não está com medo de tudo? Gravidez, morar sozinha... E a faculdade?

- Ainda não estou pensando em nada disso. Quanto aos presentes, confesso que fiquei meio decepcionada. Meus pais gastaram uma fortuna com esse casamento e eu achei que, pelo menos, os presentes pagariam a festa. Mas esse povo vive muito de aparência. Vive saindo em coluna social, mas na hora dos presentes dão ferros de passar de R$79,90. Ganhei três ferros. Haja roupa! Mas amanhã to indo pro Havai e vai ser muito divertido. Só espero que o Vicente não fique surfando o dia inteiro. Ahh, queria tanto que vocês fossem comigo.

- Ahahaha. Mas é a lua de mel de vocês amiga.

- Ahh, mas a gente nem vai fazer nada mesmo. Com essa barriga? E nem tenho tido mais vontade também.

Vicente chega na mesa bêbado e fazendo festa. Os fotógrafos e cinegrafistas os cercam.

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Dona Sabedoria

Curioso receber palavras divinas em momentos exatos
De pessoas de sempre, nem tão por dentro dos fatos
De filosofias baratas, palavras insensatas
De falta de opinião estou farta.
Dessa gente de superfície, de farsa
De fantasia sem nexo, de graça, de cabeça fraca.

Outro dia saí com a Sabedoria
Outro nível de compreensão, de filosofia
Ver através das palavras é uma virtude
Saber dos outros, dos por ques, dúvidas, agonias.

Na vida, estou cheia delas...
As Donas Sabedorias que falam sobre a verdade
Sobre tristeza, saudade, alegria
Inveja, excesso de vaidade, amizade
E sentimentos mesquinhos da sociedade.

O melhor de tudo é reconhecer
O lado mundano existente, animal da gente
A face egoísta, presente, abafada, insistente
Tudo que o sistema cultural decidiu conter.

Na vida, sou cheia de Sabedorias
De sorrisos nos lábios e poucas palavras vazias
Gente disposta a ouvir e apreender
Gente que cala e quem aprende é você.

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Corrida de taxi


Floribela acenou para um taxi que passava.

- Oi! Eu vou para o Centro por favor. Av. Rio Branco. Você sabe quanto tempo demora daqui até lá?

- Uns 20 minutos mais ou menos. Está com pressa?

- Sim, tenho uma entrevista de emprego daqui a pouco - respondeu Floribela um pouco inquieta.

- É formada em que?

- Direito.

- Hum, advogada assim tão novinha! Eu também fiz direito. Mas não consegui me formar. A vida ficou difícil. Acabei virando taxista. Mas nas horas vagas faço massagem.

- Ahm, legal - comentou desinteressada.

- Eu fiz curso no SENAC - continuou o taxista, olhando Floribela fixamente pelo espelho retrovisor.

Floribela continuava com o pensamento longe, inquieta.

- Você parece nervosa. Uma menina assim tão bonita certamente vai conseguir o emprego. Deixa eu fazer uma massagem no seu pé para relaxar. Você vai ver como é ótimo - E o taxista já foi pegando o pé de Floribela no banco de trás.

- Essa é uma técnica chinesa.

Floribela, nervosa, puxou o pé da mão do taxista.

- Não moço. Não precisa.

- Tudo bem. Não precisa ficar envergonhada - O taxista continuava tentando alcançar o pé dela.

- Moço, acho que vou saltar aqui mesmo. Quanto deu?

- Mas ainda está muito longe do número. Eu vou te levar lá na porta.

O taxi parou no sinal.

- Não precisa moço. Toma aqui seu dinheiro - disse Floribela já abrindo a porta do carro e saltando apressada.

- Menina, o seu troco.

Floribela foi embora sem olhar para trás.

sábado, 18 de agosto de 2007

A namorada do poeta

Houve ciúmes da minha parte
quando li seus poemas que não eram meus.
Mas entendi que a poesia é uma forma de arte
que não tem dono e a todos pertence
gera identificação, vontade de agir
faz chorar, faz sentir.
Suas poesias continuarão a existir
mesmo quando as pessoas
para quem foram endereçadas
(suas fontes de inspiração)
não estiverem mais aí.
Suas poesias são de quem as quiser
de quem elas fizerem sorrir
de quem elas fizerem chorar
de quem elas fizerem te amar também.
Mas é ilusão achar que poesia tem dono.
Depois que você se for
alguém as lerá e as terá para si
fará com que você viva de novo.
E a essa pessoa
é para quem as suas poesias se dedicam.
Hoje eu entendi
que suas poesias são para ninguém
porque as pessoas se vão
mas suas poesias ficam.

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Só comigo...

Querido diário,

Hoje fiquei extremamente revoltada com o estacionamento do shopping Downtown. Todos os dias da semana pago este estacionamento, acumulando um gasto de 80 reais mensal, enquanto todos os outros alunos da universidade passam pela cancela sem pagar.

O meu ticket, pago, não estava abrindo a cancela. Então o funcionário do estacionamento veio ver o que estava acontecendo.

- O seu ticket já foi pago?

- Claro, acabei de pagar.

- Você está com o comprovante de pagamento aí?

Procurei, procurei... porque, normalmente, jogo fora essas notas. Minha bolsa também não é lá um exemplo de organização. Enfim, achei.

- Você pagou o ticket bem na hora em que deveria estar saindo do shopping. Pagou por 5 horas de estacionamento, ou seja, até 12:58. Agora são 13:06. Você vai ter que voltar ao caixa e pagar pela fração de hora restante. Olha aqui, no seu comprovante consta o pagamento feito exatamente às 12:58.

- Moço, isso é um absurdo! Eu paguei o meu ticket e estou saindo com o carro. Agora você quer que eu volte na cabine para pagar de novo? Tá maluco! Se a mulher cobrou o preço errado eu não posso fazer nada. Estou atrasada e não vou voltar.

Ele chamou o chefe pelo rádio.

- Tem uma cliente aqui que o cartão ultrapassou o período pago, mas ela disse que já pagou e que não vai voltar ao caixa pra pagar o restante.

- Não! Diga que eu acabei de pagar o ticket e que eu não vou voltar para pagar de novo.

- Ela tá dizendo que não vai voltar para pagar não. Qual o procedimento? Tem um monte de carros aqui buzinando, tá o maior tumulto.

- Fecha a cancela dela e passa os carros de trás para outra cancela. Ela tem que pagar - disse o chefe do estacionamento.

- Isso é ridículo, moço. Sabe o que eu vou começar a fazer? Passar pela cancela atrás de outros carros, sem pagar, como todo mundo faz. Vocês não merecem alguém que pague estacionamento todo dia.

- Entendo. Mas só estou cumprindo ordens. Você ouviu.

Nesta hora passou uma madame num classe A:

- Cruzes hein! Por causa de 4 reais? Tá de brincadeira!

Como se eu não tivesse pagado o estacionamento. Ahhh, me deu uma raiva. Saí cantando pneu e fui para a outra saída do shopping. Claro que passei atrás de outro carro sem voltar ao caixa para pagar. Por ironia do destino pela primeira vez.

sábado, 11 de agosto de 2007

Cegos que vêem

Das limitações de um povo traduz-se o perfil da comunidade
Esta em questão, cheia de incabíveis preconceitos
Fazem dos fracassados aqueles que não vão à universidade
E esquecem-se que muitos médicos são taxistas
E garis advogados.

Não sabem que ter um diploma é apenas um dos caminhos
Muitos hippies falam sobre Foucault, Schopenhauer...
E doutores acham que são nomes de vinhos.

Consideram pessoas feias as de pouca aparência
Bonitos usam roupas combinando, cordão de prata
E camisas de marca seguindo tendência.

Não julgar, entender o próximo
E fazer da humildade parte do seu ser
Não ressaltar defeitos, mas as qualidades
Não viver ensinando
Viver querendo aprender
Essas são virtudes que todos deveriam ter
Mas pra quem só se preocupa com a capa
O conteúdo é difícil desenvolver.

Os namoros são quase sempre como contratos conjugais
Esperanças de casamento, uma prévia entre os casais.
Como se conhecer pessoas, sem compromisso fosse uma coisa ruim
Os outros sempre nos trazem algum conhecimento
Seja numa amizade, parceria sexual
Ou numa conversa de botequim.

A concentração é fixa...
Ele vai pagar a despesa?
Se não, é pobre, merece ser deixado sozinho na mesa
E mulher que quer ser bancada, não é pobre não?
É vendida, descarada,
Uma interesseira em ação.

As feministas lutaram pelos direitos de igualdade
A mulher agora trabalha
Novos tempos da modernidade!
Quem ainda não acompanhou as mudanças
Acha que homem que não sustenta a casa é vagabundo
Lugar da mulher é ao lado das crianças,
Cuidando do marido, isolada do mundo.

Depois dos trinta a idéia de não casar é um temor
Mas para quem não quer ter filhos
Ficar pra titia é expressão de louvor.

É... as opções de cada um precisam ser respeitadas
Para algumas pessoas, cheias de limitações
Suas idéias estão corretas, das outras erradas
Tinham que ser habitantes de uma cidade ilhada
Cheios de incabíveis preconceitos, de idéias equivocadas.

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Amizade entre sexos opostos

A amizade entre homens e mulheres sempre foi controversa. Existem as mais diferentes opiniões a respeito da possibilidade de sua existência. Alguns acreditam que a amizade entre sexos opostos não passa de uma estratégia com segundas intenções. Outros consideram a amizade desde que não haja interesse físico ou sexual. Ainda há aqueles que não conseguem ter amizade com pessoas de outro sexo, pois sempre acabam se apaixonando.

Depois dessas várias vertentes, ainda entramos na discussão sobre a relação entre a amizade e o desejo. É possível haver amizade quando se deseja a outra pessoa sexualmente? Amigos podem ser amantes eventuais e continuarem sendo apenas amigos?

Os Araweté, tribo da beira do Rio Xingu, quando se casam, procuram fazer amizade com outros casais e é comum a troca de pares. Essa troca é sempre baseada na mutualidade e na concordância e não num sistema de sexo grupal. Para essa tribo, a amizade entre homens e mulheres consiste na possibilidade do sexo sem o fardo da convivência doméstica.

Casais amigos estão sempre exercendo atividades em conjunto. Os homens saem para caçar e as vezes demoram dias na mata. Então as mulheres vão dormir uma na cabana da outra. Quando a comida chega todos ceiam juntos. O homem pode levar a esposa do amigo para catar sementes na floresta. Esta relação, entre a esposa de um com o marido da outra, também recebe o nome de amizade. O sexo é permitido. É a forma de estreitamento da amizade entre homens e mulheres. O ciúmes entre amigos não existe, pelo contrário, existe a concordância da troca baseada na mutualidade. Nesta tribo, ter amigos é sinal de maturidade, generosidade e prestígio.

Na sociedade que chamamos de civilizada, as relações não são tão generosas a esse ponto. Apesar de que, a idéia da fidelidade, tem sofrido severas mudanças ao longo das gerações. Mas em geral ainda mantemos o padrão da exclusividade sexual depois de casados.

Para os solteiros, as convenções sociais são mais brandas, ainda mais na nossa geração do sexo sem compromisso. Portanto, é comum que amigos tenham relação sexual sim, sem que deixem de ser caracterizados como amigos. No entanto, todos sabemos o quanto é difícil separar sentimentos. Por isso, a melhor forma de amizade ainda é aquela em que ambos sejam bem resolvidos sexualmente, conseguindo ver o amigo do sexo oposto com fraternidade. Os desejos sempre podem existir, principalmente nos homens, que possuem o instinto sexual mais evidente, mas a amizade quando consolidada, geralmente consegue dar um freio nisso.

Seja como for, o fato é que: amizade entre homem e mulher é sinônimo de maturidade.

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Insônia

A insônia aparece assim sem ser bem-vinda
nessas horas as palavras são a melhor companhia.
Os pensamentos vem e vão num ritmo acelerado
e o corpo lhes responde mostrando sintonia...
Alguns remédios, antes deixados de lado
agora estavam na caixa de itens utilizados
Como se eles fossem resolver algum problema
que na verdade não são físicos, são psíquicos
dúvidas, dilemas
 Mania de ficar pensando na vida
refletindo os defeitos, procurando uma saída.
Eu sei que pensar demais não leva à nada
faz surtar, imaginar suposições
dá uma agonia exagerada
Eu quero paz dentro do peito
me aceitar como sou, pois cada um é de um jeito.
Não invejar ou me retrair
reconhecer nos outros as qualidades
Mas lembrar que em mim elas também devem existir...

domingo, 5 de agosto de 2007

Excesso noturno

Ombros tensos...
Uma nuvem negra se aproxima.
A cabeça não para, a boca não fala, só os olhos.
Dias trocados pela noite, alcool em excesso.
Problemas nossos, dos outros
Coisas sem nexo.
Roupas, rivais, nomes listados
Companias e drogas
Fazer-se notado.
Confuso imaginar ser parte
Mundo noturno
Música, vídeos
E alguma forma de arte.

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Vizinhança



Realmente vivemos em caixas. Caixas frágeis, de paredes quase de papel. E ainda temos um basculante por onde o som das caixas acima e abaixo da nossa ecoam, fazendo-nos participar da triste realidade da vida alheia.

Outro dia, passaram por debaixo da porta, um envelope com o título "Notificação Condominial". Era uma reclamação por causa dos latidos estridentes de um cãozinho minúsculo. Ficamos de responder. Desculpas sinceras eram devidas, mas também nos sentimos na obrigação de ressaltar as obras intermináveis do andar de cima e os choros exaustivos de uma criança desesperada no andar debaixo.

A ironia do destino é que, provavelmente um desses vizinhos, com problemas tão maiores que os latidos de festividade de um cão, priorizaram a sujeira alheia do que varrer sua própria casa.

Enfim, não respondemos a notificação. Estamos de mudança.