quarta-feira, 25 de março de 2009

Representação Poética 2: Retrovisor


O Teatro Mágico

Pelo retrovisor enxergamos tudo ao contrário
Letras, lados, lestes
O relógio de pulso pula de uma mão para outra e na verdade...
nada muda
A criança que me pediu dez centavos é um homem de idade
no meu retrovisor
A menina debruçando favores toda suja
É mãe de filhos que não conhece
Vendeu-os por açúcar
Prendas de quermesse
A placa do carro da frente se inverte quando passo por ele
E nesse tráfego acelero o que posso
Acho que não ultrapasso e quando o faço nem noto
O farol fecha...
Outras flores e carros surgem em meu retrovisor
Retrovisor é passado
É de vez em quando... do meu lado
Nunca é na frente
É o segundo mais tarde... próximo... seguinte
É o que passou e muitas vezes ninguém viu
Retrovisor nos mostra o que ficou; o que partiu
O que agora só ficou no pensamento
Retrovisor é mesmice em dia de trânsito lento
Retrovisor mostra meus olhos com lembranças mal resolvidas
Mostra as ruas que escolhi... calçadas e avenidas
Deixa explícito que se vou pra frente
Coisas ficam para trás
A gente só nunca sabe... que coisas são essas

(Composição: Fernando Anitelli)

quarta-feira, 18 de março de 2009

Representação poética 1: Dores de amor

Conto
Quando meu coração flerta
Que os 472 tufões do apocalipse
Nada representam
São figuras pequenas, mero detalhes
Só vejo um coração enorme
Boiando – fileira de dentes
Marfim em faísca
... beleza da vida...
Pode ser mais simples?
Céus, porque me presenteia
Com um corpo em harmonia
Depois de tanta tormenta?
Largo-me, que seja a tentação
Maçãs sempre fizeram parte
Principalmente as maçãs podres
Mas quero, por segundos, ao menos
Na cama abraçado esquecer
Que nasci pra ser triste.

(Guilherme Zarvos)

sexta-feira, 6 de março de 2009

Não sei dizer

Não sei dizer o tanto

Mas venho multiplicando meus versos

Numa incansável euforia

É uma válvula de escape

Um gesto que esvazia

Mas não sei dizer o quanto...

Toda noite essa energia

Que aflora, contagia

Que acompanha a alvorada

É um tanto exagerada

Faz poemas, madrugadas

E não alivia...

Não sei dizer o tanto

Que os sentimentos consomem

Quanto vivem, quanto morrem

Quanto fazem compania.

Há um tanto

Que não sei dizer

Dias em branco, de escrever

Dias que dizem por si

O que eu não sei...