sábado, 27 de dezembro de 2008

Himalaia

Já imaginou visitar um lugar que ainda preserva o estilo de vida medieval mesmo depois de mais de 30 anos livre do isolamento? A fotógrafa e estudante de cinema Isabela Baptista realizou essa aventura recentemente no Himalaia, norte da Índia, onde viveu com uma tribo nômade.

O destino foi uma cidade chamada Leh, que fica no estado de Jammu & Caxemira, na região de Ladakh (Índia). É uma região de clima hostil, formada por montanhas e rios que escorrem dos glaciais a 3.505m de altitude. 

Cordilheira do Himalaia

Por muitos anos, essa região foi totalmente ignorada pelo resto do mundo, até que na década de 60, um pouco depois da China invadir o Tibete, Ladakh também foi atacada e o governo indiano teve que mandar tropas do exército, que permanecem até hoje numa base militar ao lado do aeroporto.

Depois disso, as coisas começaram a mudar. O governo adotou uma política enérgica para promover a região economicamente, construindo a rodovia trans-himalaia e incentivando o turismo, que logo começou a atrair gente do mundo todo, principalmente por ser um lugar relativamente seguro, localizado fora da área de conflito com os países vizinhos: China e Paquistão.

Portal da cidade de Leh

“Me disseram que no verão a cidade fica cheia de turistas.  Existem várias agências de esportes radicais, trilhas e passeios, além de centros de meditação, yoga e massagens”.

O início da expedição para Leh foi motivada por um convite de parceria feito pelo documentarista Marcos Negrão, que ganhou o último festival de cinema do Rio, com o curta documentário "Urubus têm asas".

“Ele me contou desse projeto de ir pra Caxemira filmar um povo de tradição cultural milenar e que o assunto era permeado por questões ambientais. Primeiro ele foi sozinho porque muita coisa ainda precisava ser definida e não sabíamos como eram as condições político-religiosas do lugar. Eu só fui na fase final da produção”.

Nômade refugiado em Leh

O filme é sobre uma família nômade de Ladakh que sofre as consequências climáticas do aquecimento global e tem conflitos entre as gerações decorrentes, principalmente, dos efeitos da globalização.

Os nômades pastores de yak foram os primeiros habitantes dessa região. Hoje, esse povo tradicional está ameaçado de extinção. O turismo e a política de incentivo econômico do governo trouxeram o crescimento urbano, bens de consumo e mudanças no estilo de vida, entre outras consequências como: migração para as cidades, poluição, utilização excessiva dos recursos naturais, perda dos costumes tradicionais, etc.

Evento de mudança do clima realizado pela 350.org

“Leh não tem infraestrutura. Toda a eletricidade funciona a base de uma central de geradores à combustível, não tem estação de tratamento de esgoto, aterro sanitário... Então você pode imaginar quais serão as consequênciais ambientais de todo esse crescimento. Pelo menos existem muitas ONGs fazendo trabalhos de educação e conscientização. Por exemplo, nos estabelecimentos comerciais, eles não oferecem sacolas plásticas pra levar as compras e, nos hotéis, existem cartilhas de conscientização ambiental. Mas isso é pouco”.

O interessante é que Ladakh, mesmo depois dessa abertura para o mundo, mantem os laços cortados, por mais da metade do ano, por causa das fortes nevascas do inverno. O clima é muito hostil, a altitude faz faltar o oxigênio, o ar é extremamente seco e a temperatura no inverno vai abaixo de -20°C. Além disso, nos últimos anos, o aquecimento global vem causando mudanças significativas no padrão das chuvas, alterando as estações de colheita e aumentando a erosão.

Vista geral de Leh

“A paisagem é muito diferente: meio lunar, sem vegetação e solo bem castigado. Parece um pouco o deserto também. Muito frio! A gente tomava banho de balde com água fervente porque a água que passava pelo encanamento estava congelada”.

Pode se dizer que essa região é quase como o Tibete porque depois da invasão chinesa, muitos tibetantos se refugiaram nessa parte do Himalaia. Por isso, a maior parte da população é budista. Mas tem uma porcentagem pequena que é muçulmana, cristã e hindu. Todos convivem bem.

As bandeiras budistas de oração enfeitam toda a cidade com um colorido divino. A arquitetura meio camuflada na paisagem, se mistura às gompas (monastérios), estupas e estátuas de Buddha. É comum vermos os monges e os habitantes pelas ruas carregando terços e objetos de reza entoando mantras o dia todo, principalmente "Om Mani Padme Hum", que é o mantra da compaixão. 

Budistas com seus terços e rodas de oração

A língua falada é ladakhi, uma variação do tibetano. Praticamente ninguém fala inglês, mas é possível se comunicar, uma vez que todos são muito simpáticos e atenciosos. Se for aprender uma palavra em ladakhi, que seja Jule (pronuncia-se Diulé). Tem vários significados: Oi, tchau, por favor e obrigada.

A culinária tradicional é a base de farinha. O prato típico chama-se momo, que são uns bolinhos, feitos de farinha, com recheio de vegetais ou carne. Come-se molhando-os no chá de manteiga. Eles têm uma cultura de chá muito forte. Parece que nos últimos anos, o governo adotou uma política de distribuição de artigos da Índia central e agora encontra-se de tudo pra comer. O arroz com vegetais é o prato mais comum. Mas em Leh tem pizzarias, comida tibetana, tailandesa, italiana, indiana, etc.

Ruas de Leh vazias

“Queria ter tido a oportunidade de desfrutar dos inúmeros restaurantes e bares localizados nos terraços das casas, com uma vista incrível. Mas como fui no inverno estava tudo fechado.Com o passar do tempo não tinha mais nenhum restaurante aberto. No final, a gente estava comendo praticamente todos os dias com a família dona da pensão onde ficamos hospedados e a comida era quase sempre a mesma: arroz e vegetais cozidos, bem apimentados”.

O caminho para chegar até os nômades dura 10 horas de carro passando por Tanglang La, a segunda passagem mais alta do mundo (5.359m), indo na direção de Changtang. Essas rodovias, que levam aos arredores de Leh, fecham no inverno e as pessoas que se aventuram a atravessá-las fazem pelo seu próprio risco.

“Havia a possibilidade de atolarmos na passagem por causa da grande quantidade de neve. Ouvi uma história, de que uns meses antes, um grupo de turistas despreparados atolou nesse lugar e os 4 morreram de hipotermia. A gente atolou também e tivemos que voltar. Me lembro de que, lá em cima, desci do carro pra fazer as fotos e tava totalmente sem coodernação motora por causa da altitude. Levamos umas 2hs pra tirar o carro”.

Atolados em Tanglan La

Poucas agências de turismo oferecem excursões para os platôs onde vivem os nômades. Para transitar por Changtang, na sua maior parte, é necessário uma autorização do governo da China e deve-se cumprir algumas exigências para que eles possam emiti-la. É um lugar ermo, sem infra estrutura turística e estradas precárias. Uma verdadeira aventura!

“Foi muito especial essa oportunidade pra mim. O Marcos, fez os contatos porque já tinha ído uma vez, quando produziu a maior parte do filme. Ficamos mais de 2 dias organizando tudo, afinal, estávamos indo pra um acampamento, num lugar extremamente frio, sem energia elétrica, onde havia racionamento de água e comida”.

Os nômades geralmente vivem em tendas feitas de couro de yak ou em casas feitas de pedra. Eles migram de acordo com a disponibilidade de pasto para o rebanho, mas também possuem acampamentos permanentes. Existe uma divisão de tarefas: os homens conseguem lenha, conduzem o rebanho, constroem artefatos... e as mulheres lavam as roupas, cozinham e produzem lã para vender e fazer artigos de tricô.

Construção nômade

“A coisa mais emocionante que eu presenciei nessa viagem foi quando, o nosso motorista, que era um nômade dessa tribo, avistou um de seus irmãos pelo caminho, conduzindo o gado. Foi cena de filme! Eles não se encontravam há meses e, andar por essas terras geladas, como eles fazem, envolve sempre risco de vida. Ele veio com aquele rebanho enorme até a estrada. Nosso motorista saiu do carro emocionado e eles ficaram longos minutos abraçados chorando. Eu chorei também de dentro do carro. Tava muito frio, mas um dia lindo de sol. A primeira coisa que ele fez depois disso foi oferecer ao irmão coisas pra comer. Ele estava realmente magro”.

Uma curiosidade é que as mulheres podem ser polígamas. Elas casam com homens de uma mesma família, geralmente irmãos, para evitar a divisão da propriedade e aumentar a segurança financeira. Mas o mais comum é a monogamia. Quando chegam a uma certa idade, se não tiverem escolhido um pretendente, os pais arranjam o casamento. 

Sonam, Digmet e Kontcho, nossos anfitriões
 
“Na casa em que ficamos hospedados, a mulher era casada com dois irmãos. Um dos maridos era esse que a gente encontrou no caminho conduzindo o rebanho. O outro ficava em casa, fazendo tarefas pelo acampamento. Eles tinham 2 filhos, mas eles não sabiam quem era o pai das crianças, isso não importava. O filho mais velho morava em Leh com familiares porque tinha problemas cardíacos."

Assim como tem acontecido em Leh, os costumes nômades que são  influenciados pelo consumismo e o estilo de vida moderno, têm se modificado bastante. A transformação de séculos de cultura tem sido motivo de preocupação para a população da região, principalmente porque atrai os mais jovens, colocando em risco a sobreviência cultural.

Sonam com roupas sintéticas

“Eles ficavam fascinados com os nossos ipods, câmeras fotográficas, filmadora... Assistir filmes no ipod era um evento na nossa tenda. As crianças, depois que aprenderam a ver as fotos na tela da câmera, não me deixaram mais em paz. Um dia a Sonam, nossa anfitriã, quis vestir umas roupas modernas e posar para fotos..."

O platô de Chang Tang está a 4.700m de altitude e a temperatura varia entre -5° e -35°C. Depois que começa a temporada de neve e as estradas fecham ninguém mais transita na região. Para se locomover é preciso esperar o inverno acabar e reabrirem as passagens. É sempre um alvoroço quando alguém passa de carro. As pessoas pedem carona para a cidade, desesperadas, e é comum encontrar veículos entupidos de gente.

“A gente teve que ficar atento porque se começasse a nevar precisaríamos ir embora imediatamente, senão teríamos que ficar lá com os nômades por 3 meses até o inverno acabar. Isso aconteceu na nossa última noite. Estávamos jantando e o nosso motorista entrou apressado dizendo pra gente juntar as coisas que precisávamos partir. Durante o jantar já tinham vindo várias pessoas pedindo carona. Podia ser a última oportunidade deles irem embora. Mas não cabia todo mundo no carro.

No trajeto de volta à cidade

 Fizemos tudo muito rápido. No meio do caminho, mais uma aventura. Precisamos atravessar um rio semi congelado. Ainda bem que haviam 5 homens e eu. Todos desceram do carro e começaram a pular em cima dos blocos de gelo, se certificando de que iam aguentar o peso do carro. Como eu não queria descer, porque estava quase congelando, fui a única, fora o motorista, que atravessou o rio dentro do carro.

No caminho de volta, fiquei pensando em como toda essa experiência era inesquecível. Eu cheirava mal de uma semana sem tomar banho, cansada por não ter dormido direito, mas estava muito feliz”.

Isabela Baptista caracterizada de nômade

Dicas sobre Leh

Clima:
De junho a setembro - verão
Temperatura = -3° a 30°C
De outubro a maio - inverno
Temperatura = -20° a 13°C

Dinheiro: Existem 2 caixas ATM 24hs que aceitam cartões internacionais e 3 bancos na cidade. Geralmente a tarifa de Leh é melhor que a de Delhi.

Hospedagem: Padma Guest House & Hotel.
www.padmaladakh.com

Eventos: A maioria dos festivais acontecem no inverno, principalmente em janeiro e fevereiro. O ano novo budista é em fevereiro.  Mas o Ladakh Festival, que é em setembro  (entre os dias 1 e 15), é bem conhecido e atrai muitos turistas. Nessas ocasiões, acontecem campeonatos esportivos e atividades culturais como as danças de máscaras e muito chaam (bebida alcoólica tradicional).

Sobre o filme: Para maiores informações sobre o filme documentário produzido em Ladakh, acessar o site da Enigma Filmes: www.enigmafilmes.com.br/terra


Para mais fotos dessa viagem: India

sábado, 24 de maio de 2008

Pedra da Gávea


Carrasqueira
Sem sombra de dúvidas a Pedra da Gávea, localizada entre os bairros de São Conrado, Barra da Tijuca e Itanhangá, possui a melhor vista do Rio de Janeiro. Seu acesso se dá por uma trilha bem íngrime de 1.670 m, que começa na Barra da Tijuca (Barrinha) e dura aproximademente 2hs e 30 min até chegar ao pico a 844m do nível do mar. A parte mais difícil da trilha se chama Carrasqueira, um trecho de pedras acidentado ao lado de um penhasco. Nesta parte, as pessoas menos experientes usam cordas, mas dá para subir e descer segurando-se nas pedras fraturadas. A melhor época do ano para visitar é um pouco antes do inverno, entre maio e junho, quando o clima está ameno podendo até fazer um pouco de frio lá em cima, e o céu está limpo por causa de baixa umidade do ar. Se a proposta é tirar fotos incríveis, o ideal é chegar antes do nascer do sol.

Mapa da Trilha

Veja algumas fotos:









quinta-feira, 1 de maio de 2008

Vozes


Vozes-6.jpg, upload feito originalmente por Isabela Baptista.

Still do documentário 'Vozes'
Direção: Anna Costa e Silva, Fabio Canetti e Luiza Santoloni.
Atrizes: Dandara Guerra e Teresa Hermanny.
Prêmios:
Best short documentary - The Accolade Excellence Award 2009.
Best experimental documentary - Fest Cine Amazônia 2009.
Melhor fotografia e Melhor Atriz - Fest Cine Maracanaú 2010.

Para mais fotos: VOZES

quarta-feira, 30 de abril de 2008

Inspiração

Por dias e dias nenhuma idéia
Ou idéias abstratas demais
Tem dias de samba, dias de jazz
Tem dias de choro, tem dias que não há nada
Há dias e dias que as idéias não voltam mais.

Há dias, há dias atrás...
Houve dias de glória
Há dias atrás foi uma vitória
Lembranças escritas na memória
Escritas de arte e beleza.
Em um ato só, de tudo luz
Por dias e dias compus.

Mas dos dias, a maioria é trabalho
Como já dizia Allan Poe
Não há iluminação divina
É tudo boato!
E disse, passo a passo
A filosofia da composição do seu maior poema
Mas digo: - Há dias escrevi sem problemas.

Então, podemos dizer, que há dias de inspiração
Dias de lenda, dias de terror e suspense
Dias em que o trabalho compense
Mas também há dias de nada.

sexta-feira, 21 de março de 2008

Medo

O medo tem se espalhado como uma doença contagiosa pelo mundo. Medo dos ataques terroristas, medo dos aviões, medo da AIDS e das grandes epidemias, medo dos assaltos e da violência, medo de ter medo.

O medo, muitas vezes, se transforma em preconceito. Quantas vezes já não vimos desviarem o caminho pelo medo? Medo do estranho, medo do negro, medo do pobre, medo dos mulçumanos.

O olhar do medo também é retribuído. Medo de ser confundido, medo de ser rejeitado, medo de não sobreviver e de ter que entrar nas regras do jogo, medo das consequências.

O medo atinge qualquer pessoa, nao vê idade, raça ou classe social. O medo pode ser limite, preocupação, pânico, o medo pode ser fantasia, pode não vir, pode vir muito cedo.

As pessoas vão vivendo perseguidas pelo medo e são quase obrigadas a se adaptarem a essa realidade. O medo cria grades e correntes, ar de desconfiança de limites sem fronteira.

Quem tem medo, vê medo em qualquer lugar, por que o medo está dentro e não fora. Quem tem medo, teme por si e pelos outros. Não teme sempre, mas a qualquer hora.

Medo é subjetivo e as vezes generalizado. Medo pode ser solidário e muito egoísta. Medo vem junto com os sentimentos mais bonitos e, na maioria das vezes, acaba com eles.

domingo, 3 de fevereiro de 2008

O samba d'alegria

Hoje sonhei com mil palavras cruzadas
Araras de rimas raras, lindas, infindas
Poesia celeste, cordéis do agreste
Músicas de todo tipo, cheias de ritmo
E duas imagens não saíam da minha cabeça
A sutileza de um gesto amável
E a saudade de um notável alguém.

Nobre coração de incertezas
Insisto! O amor seja como seja
Que seje sempre poesia, que seja!

Deste samba faça a sua filosofia.
É uma alegria amar e não sofrer
Há quem diga, que assim o amor não existe
Mas pra quê amar se você ficar triste?
Amor assim, não desejo pra ninguém.

Nobre coração de incertezas
Insisto! O amor seja como seja
Que seje sempre poesia, que seja!