quinta-feira, 4 de março de 2010

O Extremo dos Andes

Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem não encontra graça em si mesmo“.

- Martha Medeiros -

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O Extremo dos Andes, um álbum no Flickr.

Chile

O Chile é um país surpreendente de formato geográfico único. Seu território, localizado entre a Cordilheira dos Andes e o Oceano Pacífico, possui em média 4.300 km de comprimento e 180 km de largura. Essas dimensões fazem do país o maior em extensão vertical do mundo.

Além da diversidade climática, o Chile concentra grande parte das atividades sísmicas e vulcânicas da Terra, o que lhe proporciona uma riqueza natural singular, incluindo lagos cor de esmeralda, montanhas majestosas, desertos que lembram a superfície lunar, planícies de clima mediterrâneo até picos nevados e grandes geleiras rumo ao pólo antártico.

Este roteiro reúne paisagens deslumbrantes e ambientes biologicamente muito diversos que normalmente não poderiam ser visitados em uma mesma viagem. As grandes atrações foram: o Deserto do Atacama, por ser o deserto mais seco e mais alto do mundo e Cape Horn, o ponto mais austral do continente americano.

…. Deserto do Atacama ….

O Chile é dividido em 15 regiões. As principais cidades, muitas vezes, estão muito distantes uma das outras. Se há pouco tempo disponível, é bom lembrar que para dirigir de Santiago à Patagônia, por exemplo, leva-se um dia inteiro e que ir de avião é o jeito mais rápido, embora mais caro, de se locomover pelo país. Utilizar a capital como ponto de partida, para quem irá aos extremos norte e sul, é uma ótima opção, pois a cidade localiza-se na região central. Além disso, Santiago está repleta de atrações históricas, culturais, bares e bons restaurantes, que permitem sentir o estilo de vida chileno.

Antes de viajar compramos um guia do Chile onde lemos sobre um sistema de transporte ‘hop-on, hop-off’, voltado para mochileiros,  chamado Pachamama by Bus. Eles possuem dois itinerários, uma rota sul e uma norte. O foco das visitas são lugares fora do circuito turístico tradicional. Muito conveniente, com ótimo preço e tranqüilo, pois os grupos formados são de no máximo 15 pessoas. Eles indicam hospedagem, geralmente albergues, com a possibilidade de ficar em quartos privados. É possível permanecer em qualquer ponto e pegar o próximo ônibus, que leva uma semana para passar de novo.

A rota para o norte leva 10 dias ida e volta, visitando praias menos populares, parques nacionais e pontos turísticos pouco conhecidos no meio do caminho. Este roteiro, algumas vezes, sofre modificações por causa do mau tempo ou da condição das estradas. No nosso caso, alcançamos o Salar do Atacama por meio de estradas alternativas, parando para um banho na piscina de águas naturais em Peine, um dos oásis do deserto e na Laguna Chaxa para observação dos flamingos. O caminho de volta para Santiago incluiu Vicuña, onde está localizado o Observatório Mamalluca, Vale do Elqui,  onde visitamos uma destilaria de pisco e o Monumento Arqueológico Valle del Encanto em Ovalle.


O Deserto do Atacama está a uma altitude mínima de 2000 metros e é constituído por paisagens de areias vermelhas e pedras, com um clima tão seco que a NASA o escolheu para conduzir experimentos, como os de exploração em Marte, em áreas que praticamente não abrigam nenhum tipo de vida.

San Pedro do Atacama é uma pequena vila de tradição colonial espanhola, um oásis no centro do deserto povoado por descendentes de índios nativos e invadido por turistas que vêm desenvolvendo sua infra-estrutura num estilo rústico-cosmopolita. De lá sai a maioria dos passeios e é onde se concentra grande parte dos hotéis, muitos deles considerados os melhores do país.

Com o boom do turismo também surgiram dezenas de agências situadas na rua principal, as quais oferecem tours tradicionais ou expedições privadas. O ideal é fazer uma rápida pesquisa entre as operadoras locais para certificar-se dos preços e pacotes. São quatro tours principais: Vale da Lua, Salar do Atacama, Geiseres del Tatio e as expedições arqueológicas para Aldeia de Tulor, Pukará de Quitor e Vale do Arco-íris. O recomendado é fazer os passeios, em maiores altitudes, a partir do terceiro dia. Nós nos aventuramos a ir aos Geiseres del Tatio, a cerca de 4.300 m, no segundo dia e passamos muito mal.

A vila de San Pedro é dividida em vários bairros, no entanto, a área central da cidade pode ser percorrida em 10 minutos. A rua principal se chama Caracolles, é onde está o comércio e se concentram os restaurantes e a vida noturna. No número 166 encontra-se o Observatório del Cielo Austral, operadora do tour astronômico de um francês que aponta no céu, com um laser de longo alcance, as constelações, galáxias e planetas e ao final ainda lhe oferece um chocolate quente delicioso.

Alguns cuidados básicos são extremamente recomendados ao viajar pelo deserto chileno, como: só tomar água mineral, já que o lençol freático contém grandes quantidades de arsênio, ter consigo umidificador nasal e labial, pois o ar é muito seco e levar roupas para o calor e para o frio, no deserto a amplitude térmica entre o dia e a noite é enorme.

…. Cape Horn ….

Já o sul do Chile, apesar de mais desenvolvido economicamente, é um lugar que ainda hoje nos remete a aventuras audaciosas com clima de expedição, como é o caso da rota para Cape Horn pelo Estreito de Magalhães, que ficou muito conhecida porque foi navegada por Charles Darwin, a bordo do navio Beagle, antes de publicar sua obra prima “A origem das espécies”.

Localizada em Santiago no bairro de Las Condes está um dos escritórios da empresa Cruceros Australis, que oferece pacotes de 3 ou 4 noites num navio, partindo de Punta Arenas no Chile até o Ushuaia na Argentina, passando pela Ilha de Hornos, onde está o ponto mais austral do continente americano. Pouquíssimas empresas realizam este roteiro e essa é a única com a proposta de ser um navio de luxo, onde pode-se ficar acomodado a maior parte do tempo dentro do barco, protegido da instabilidade climática da região.

Punta Arenas é a cidade que serve como ponto de partida para Cape Horn. Apesar de ser considerada por muitos como cidade de passagem entre Ushuaia e El Calafate, Punta Arenas tem uma história fascinante e é o centro urbano mais importante da Patagônia, contando com um aeroporto e uma infra-estrutura portuária forte que movimentam o turismo na região. Seu maior atrativo é o Monumento Natural Los Pinguinos, uma colônia de pingüins magalhânicos que dominou Isla Magdalena a aproximadamente duas horas de ferry-boat.

O roteiro para Cape Horn inicia-se pela Baía Ainsworth, onde localiza-se o Glaciar Marinelli e as Ilhotas Tuckers. Depois navega-se por um braço do Canal de Beagle, valendo um desembarque no Glaciar Pia para ver enormes pedras de gelo caírem no mar e muitas fotos na majestosa Avenida dos Glaciares. No terceiro dia, atravessando o Canal Murray e a Baía Nassau chega-se a Cape Horn ou fim do mundo, como também é conhecido. A Baía Wulaia, um sítio arqueológico dos índios nativos Yámanas, é a última parada antes de chegar ao Ushuaia, a cidade mais importante da Terra do Fogo argentina.


Todos os dias são realizados passeios em pequenos botes que levam os passageiros, divididos em grupos, até ilhas repletas de aves patagônicas, golfinhos, elefantes marinhos, castores, geleiras e alguns sítios arqueológicos. Entre um passeio e outro, durante a navegação, são realizadas ótimas palestras, entre outras atividades, que explicam o que será visto nas próximas excursões, além de aulas de glaciologia, biodiversidade patagônica e história.

A região de Cape Horn é crítica. Já houve mais de 800 naufrágios e mais de 10 mil marinheiros estão mortos naquela área. A ponta do cabo é complicada porque é a parte de mar mais aberto pelo qual navegamos e existem fortes ventos que chegam a 200km/h. Quando pagamos o cruzeiro, nos avisaram que a probabilidade de desembarque era de 50% por causa das condições do mar, que podia chegar a 5 metros de onda. Felizmente nós tivemos sorte e conseguimos desembarcar, mas logo tivemos que partir porque vinha uma tempestade.

Cape Horn é marcado pelo Monumento dos Albatrozes em homenagem aos personagens de uma história chamada Cap Horniers. Esta história se refere aos milhares de navios e seus tripulantes que cruzavam Cape Horn, gerando um intenso tráfego marítimo nesta área, antes da construção do Canal do Panamá. Esses navios feitos de ferro eram muito velozes, feitos para agüentar a perigosa rota por Cape Horn, de fortes correntes marítimas e ventos temíveis. Eles vinham da Europa em busca do ouro descoberto na Califórnia, do guano do Peru e do salitre do Chile. Muitos nunca conseguiram chegar ao seu destino.

Os albatrozes são um símbolo para os marinheiros. Representam a alma dos mortos como retrata o poema de Sara Vial: ”Sou o albatroz que te espera no fim do mundo. Sou a alma esquecida dos marinheiros mortos que cruzaram Cape Horn vindos de todos os mares da Terra. Mas eles não morreram em ondas furiosas. Hoje voam em minhas asas, pela eternidade, na última rajada dos ventos antárticos”.

Onde ficar:
Onde comer:
  • Donde Augusto. Mercado Central – San Pablo 943, Santiago. www.dondeaugusto.cl
  • Pátio Bellavista. Pio Nono – Bellavista, Santiago. www.patiobellavista.cl
  • La Tribu. Gustavo Le Paige 181. San Pedro do Atacama.
  • La Luna. Bernardo O’Higgins 1017, Punta Arenas. www.laluna.cl
  • La Marmita. Plaza Sampaio 678, Punta Arenas. www.marmitamaga.cl
  • El Turco. San Martín 1440, Ushuaia.
  • Tia Elvira. Av. Maipú 384, Ushuaia. (Merluza Negra é imperdível.)

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